Indicação: EsportudoW

Por Alice Alves de Souza (@ally_souza4), Diego Therezo de Souza Graim (@diegograim) e Izabela Baeta da Costa (@izabelabaetta)


Com uma identidade visual marcante e postagens que rompem com a barreira da cobertura tradicional dos esportes femininos, o EsportudoW foi criado a pouco mais de seis meses, com o objetivo de abordar esportes no âmbito feminino e dar voz para os diferentes perfis de mulheres no cenário esportivo, como atletas, fãs e jornalistas. 

Nascido do desejo de colaboradores do grupo de mídia do Esportudo, o EsportudoW começou de forma experimental em meados de abril de 2022. De acordo com Isabela Dâmazo, supervisora e idealizadora do projeto, a página foi criada especificamente para suprir a falta de espaço para falar sobre esportes femininos.

Segundo conta Isabela, o grupo de mídia Esportudo, fundado em 2017, especializado em coberturas, análises e conteúdo esportivo e mantido por um grupo de startups dos EUA voltadas para esporte e tecnologia, possuía diversos “braços” para diferentes esportes, como o Goleada (para futebol masculino), o Camisa 23 (para basquete), o Endzone Brasil (para futebol americano) e o Next Level (para cultura pop e games), mas não tinha um espaço ou uma equipe dedicada especificamente para os esportes femininos. Desse modo, a cobertura era feita de maneira “amadora”, sendo dividida entre as páginas focadas em esportes masculinos. 

E foi pensando na falta de espaço para a divulgação e cobertura das modalidades femininas junto ao potencial quase inexplorado desses esportes no Brasil, que um grupo de pessoas dentro do Esportudo decidiu se unir para participar do projeto experimental que viria a ser o EsportudoW“A gente começou como um teste e hoje a nossa equipe é composta só por mulheres, e nós estamos crescendo cada vez mais”, disse Isabela em entrevista. 

Com quatro mulheres na produção, a equipe do EsportudoW se divide entre as publicações do site, no IG do Instagram, na conta do Twitter e na página no Tiktok. Como conta Isabela, hoje o time é composto por criadoras de conteúdo especializadas e com foco no esporte feminino, muito diferente do que era no começo.

“Nós não sabíamos se realmente ia acontecer, se ia funcionar ou não, então a gente não contratou ninguém. Era somente as pessoas do próprio Esportudo. Então, tinha uma pessoa que era de futebol, tinha uma pessoa que era do basquete, tinha uma pessoa que era de tec e cuidava do site…tinha eu, que eu era designer de futebol. A gente foi pegando várias pessoas que gostavam de esporte; fosse só uma modalidade do feminino já ia ajudar de alguma forma e a gente foi trabalhando nesse estilo até que conseguimos completar o primeiro mês.” 

Com o primeiro mês concluído e o sucesso alcançado, o projeto continuou e a equipe passou a se especializar. Hoje o EsportudoW conta com a Isabela (supervisora), a Vitória Badini (redatora), a Sofia Markiewicz (estagiária) e a Alícia Soares (criadora de conteúdo). As quatro se dedicam exclusivamente ao projeto e ainda recebem auxílio dos demais colaboradores do Esportudo para produzir o melhor conteúdo sobre mulheres no futebol, no vôlei, automobilismo, no jornalismo esportivo, nas torcidas e em qualquer âmbito do esporte.

Prezando sempre por conteúdos atuais e pertinentes à sociedade, as postagens do EsportudoW são organizadas de modo a abordar o maior número de acontecimentos possíveis. Desse modo, a rotina de produção é intensa e a cobertura dos campeonatos esbarra em diversas dificuldades.

“Sempre mulheres têm que falar sobre isso, sendo que a gente precisa construir essa rede que é muito maior, de todo mundo ver onde tem um problema e não só deixar que as mulheres se importarem com isso. Mas existe a dificuldade como em todos os outros lugares, né? Como jornalista, como torcedora, como atleta.“

Isabela Dâmazo, supervisora e idealizadora do projeto

O projeto faz a cobertura factual das modalidades femininas, característica importante e recente na mídia esportiva brasileira. Segundo levantamento realizado pelo Observatório Marta, de 862 notícias sobre mulheres no esporte publicadas na mídia brasileira entre 2020 e 2021, cerca de 30,5% delas eram sobre a cobertura cotidiana. Os temas abordados nesse caso são os jogos, transferências e/ou contratações de atletas, placar das competições, demissões, dentre outras. De acordo com o Relatório 2021 do Observatório Marta,

A dominância das notícias sobre o cotidiano do esporte é uma das questões fortemente criticadas no jornalismo esportivo, contudo, no caso das modalidades femininas, […] pela invisibilidade histórica e a inexistência de campeonatos de clubes de futebol feminino em nível profissional até pouco tempo no Brasil, a presença dessa cobertura cotidiana pode ser vista como positiva, na medida em que revela um esforço por parte de alguns veículos de comunicação em acompanhar a modalidade de forma regular. (OLIVEIRA e PEREIRA, 2021, p. 18). 

A cobertura factual acontece no cotidiano, mas, para Isabela, é importante que os posicionamentos diante de questões de gênero também aconteçam. A postagem mais marcante do Instagram envolve a árbitra Edina Alves. Contestada por cometer um erro no Campeonato Paulista, a juíza foi penalizada pela CBF, enquanto árbitros homens não recebem o mesmo tratamento. O machismo sobre a situação foi colocado em pauta na postagem do EsportudoW e recebeu grande apoio. Foi quando Isabela e as outras integrantes decidiram que as manifestações sobre questões temáticas também funcionariam.  

“Acho que foi o primeiro desse estilo que a gente fez. Esse da Edna foi o primeiro onde a gente, de fato, se posicionou, com uma opinião geral e que deu muito certo. Quantas pessoas comentaram, ‘nossa, que post necessário’“, relatou a jornalista.

Postagem sobre a árbitra Edina Alves. Reprodução/Instagram

Depois da boa repercussão, o grupo também se posicionou em posts envolvendo o caso Cuca e o machismo dentro do automobilismo. Por mais que as postagens sejam importantes e visem uma grande causa, ainda existe um receio por parte das jornalistas para expor os pensamentos.

“A gente tem sim alguns receios, mas eu acho que a gente não deixa de fazer por conta disso. Nós podemos moldar a opinião de todo mundo sobre uma coisa que não pode mais acontecer. Então a gente precisa e deve, como jornalistas e como mulheres, nos posicionar. Por isso a gente prioriza essa parte.”

No Instagram, o público da página ainda é majoritariamente masculino, já que, antes o perfil levava outro nome e tratava de outros temas no esporte. Por isso, alguns comentários ainda refletem uma mentalidade machista e sexista diante das postagens sobre esporte feminino. Segundo Isabela, o foco do perfil é comunicar para e com as mulheres, além de buscar construir e transformar o público. 

“O nosso público principal são mulheres. Mulheres que estão apoiando o que a gente faz. A página é justamente pra isso: para as mulheres se identificarem nos cenários esportivos, tanto que a gente está falando sobre mulheres. Então, é mais pra ter essa representatividade.”, contou Isabela.

Para ela, as abordagens diárias sobre a cobertura do esporte também são fundamentais para que o público seja cativado.

“Eu me identifico nas páginas como as Dibradoras, mas faltava aquela coisa de cobertura. De ficar o dia todo ali falando sobre isso. É muito legal a gente estar produzindo conteúdo o dia todo sobre o espaço feminino.” 

Isabela Dâmazo, supervisora e idealizadora do projeto

Dentre as redes sociais que o EsportudoW utiliza para publicação de suas matérias, o Instagram atualmente é o meio que gera o maior engajamento para o projeto. Contabilizando aproximadamente 32.700 seguidores, a página faz uso de diferentes recursos para se destacar a frente de outros portais de esporte feminino, como a presença do uso de roxo e preto em suas imagens, um recurso estético que se tornou característico à marca EsportudoW.

Além do recurso estético, o processo de escolha do conteúdo e da formatação é essencial para gerar engajamento e obter uma identidade como veículo midiático. Nas imagens são postadas afirmações, atualizações sobre campeonatos femininos e sobre as jogadoras, além de notícias que rondam o mundo esportivo e atingem diretamente a imagem da mulher e sua função dentro do âmbito.

Notícia do dia 30 de Setembro publicada no Instagram/ Reprodução: Instagram

Assim como as imagens, outras ferramentas utilizadas pela página são o Reels, na qual são postados trechos de entrevistas; vídeos virais relacionados ao tema do perfil; jogadas marcantes e memes, servindo como uma espécie de destaque do dia para variados esportes, e conteúdo de fácil consumo. E o Collabs, funcionando como uma postagem trabalhada de forma conjunta entre duas páginas, usualmente dentro da marca Esportudo, gerando engajamento e visualização à ambas.

Reels do dia 26 de setembro publicado no Instagram/ Reprodução: Instagram

Partindo para outras redes sociais, a abordagem escolhida para produção do conteúdo se diferencia levemente do Instagram, mas sem perder sua característica. No Twitter, a linguagem usada se torna mais informal com o uso de muitos memes de modo a gerar uma personalidade à página. Além disso, são postadas atualizações em tempo real de jogos femininos e matérias do site oficial.

Para o Tiktok, a estagiária Sofia Markiewicz torna-se uma representação da página ao expor seu rosto e comentar sobre os temas do dia. Sempre atrás de um fundo roxo escuro (cores da marca), são apresentados um resumo do assunto e um breve comentário por ela, tudo isso em 30 segundos para uma melhor comunicação com seu público no aplicativo, dado que a forma de consumo de conteúdo é diferente comparado ao Reels do Instagram.

No site oficial do Esportudo, há uma aba com o título “Esportes Femininos”, na qual é possível ter acesso ao conteúdo do EsportudoW. As postagens no site se resumem em Embeds do Twitter (@EsportudoW), além de matérias de portais parceiros e matérias próprias. Tudo isso organizado de modo a simular um feed de redes sociais.

Dentre todos os meios utilizados pelo projeto, o Instagram foi o mais efetivo para atingir seus objetivos e um amplo público, mas isso não impede o EsportudoW de continuar desenvolvendo seu conteúdo para outros lugares na internet de forma a familiarizar o consumidor de cada rede específica. Mesmo que os métodos de abordagem mudem, seu design e comunicação simples são característicos para qualquer fã do projeto reconhecer e continuar acompanhando-o, independentemente da plataforma. 

Apesar do conteúdo consolidado, do público definido e da equipe especializada, o EsportudoW ainda enfrenta dificuldades constantes em decorrência da alta demanda de assuntos. Por ser projeto abrangente que não se limita a um esporte específico, a página precisa estar em intenso contato com os eventos esportivos, o que nem sempre é possível, por conta da quantidade de esportes simultâneos ou da falta de transmissão das modalidades femininas. 

“Às vezes as coisas estão muito juntas e é complicado da gente estar em todo lugar fazendo tudo, porque ao mesmo tempo que produzir conteúdo pra algumas pessoas parece muito fácil, a gente quer produzir com qualidade, a gente quer postar com qualidade.”

Todavia, as dificuldades enfrentadas pela equipe do EsportudoW não são o suficiente para impedir o projeto de continuar o seu propósito: dar voz as mulheres dentro do esporte. Desse modo, o EsportudoW segue crescendo e proporcionando espaço àquelas que foram oprimidas, dando voz àquelas que foram caladas e mostrando ao Brasil o esporte feminino em sua totalidade. 

REFERÊNCIAS

OLIVEIRA, J.S. PEREIRA, V.M.  Relatório Anual do Observatório das Desigualdades de Gênero no Esporte. 2021. Disponível em: https://observatoriomarta.com/2022/02/18/relatorio-2021/

***Esta crítica foi produzida como atividade da disciplina Laboratório de Comunicação e Esporte ofertada no semestre 2 de 2022 no Departamento de Comunicação Social da UFMG. A disciplina foi ministrada pela Profa. Ana Carolina Vimieiro e pela mestranda Flaviane Eugênio.***

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