Por: Daniel Vieira, Glaucy Helena, Larissa Loureiro e Leonardo do Prado Moreno
A disciplina Mídia, Esporte e Gênero apresentou-nos textos e pesquisas que mostraram que o futebol desde os primórdios é considerado um esporte majoritariamente masculino, e assim, desenvolvido a partir de uma visão masculinizada. O futebol, dessa forma, se estabeleceu em um ambiente no qual há constantemente o reforço de um estereótipo masculino e por isso, existem barreiras que impediram, e até hoje impedem a inserção de mulheres neste lugar. Do mesmo modo, o jornalismo esportivo também se desenvolveu seguindo esta lógico, por isso, a inclusão de mulheres jornalistas esportivas é até lenta e gradual. Das poucas que ocupam este local, há algumas que tomaram a frente para construção de projetos de comunicação alternativa para abordar sobre as mulheres atletas que também conseguiram ocupar o ambiente esportivo. É a partir desta acepção que surge o Dibradoras, projeto de mídia alternativa idealizado e produzido por mulheres, que fala justamente sobre as mulheres do esporte, fazendo a cobertura de competições e também refletindo sobre as dificuldades encontradas por elas e pelas modalidades femininas.
Com o objetivo de produzir conteúdo voltado para modalidades femininas e ser um canal de mídia, a Dibradoras surgiu com o seguinte propósito “promover a participação das mulheres em um meio que ainda é tão dominado por homens”. O projeto atua em diversas plataformas, o que o consolida como um grande nome de mídia alternativa no esporte. Em uma entrevista desenvolvida pela Hypeness, site de notícias e mídia, as Dibradoras apontam duas principais características em suas abordagens. A primeira delas é em relação ao espaço que dão para as mulheres em geral em seus conteúdos, sempre reconhecendo que naquele local há profissionais que não são reconhecidas nem citadas pelos principais meios de comunicação. A plataforma acaba sendo então responsável por “romper uma barreira no jornalismo esportivo, dando voz às mulheres do esporte de forma geral (a torcedora, a jogadora, a árbitra, a dirigente, a treinadora, a gestora, a jornalista, as narradoras e por aí vai)”
A segunda abordagem é em relação ao posicionamento para abordar alguma situação machista que acontece no meio jornalístico ou no esporte em geral, isso porque, segundo as Dibradoras, muitas pessoas que as acompanham já esperam um comportamento delas mais reativo e combativo com a situação. Para elas, é importante que tais situações sejam também constatadas para que as pessoas entendam que este comportamento faz parte de algo já enraizado em nossa sociedade e que não é algo pontual.
Nossos seguidores nos cobram esse tipo de posicionamento combativo e conscientizador e a gente tenta, de certa forma, mudar esse tom adotado por muitos. Às vezes acontece porque é um comportamento praticado há anos e naturalizado pela sociedade. Alguns não conseguem enxergar preconceito ou machismo porque por muito tempo, ninguém contestava. (VIEIRA, Kauê, 2016, Hypeness)
Dentre as temáticas trabalhadas pelas Dibradoras, podemos dividir o foco de acordo com a estrutura de notícias e conteúdos fornecidos pelo site. Dessa forma, percebe-se que o canal trabalha principalmente com a produção de notícias de campeonatos de futebol feminino maiores, como a Copa América e a Copa do Mundo, entretanto, também há algumas matérias destinadas ao futebol feminino regional. No site tem também alguns espaços e matérias destinados a entrevistas com mulheres que são referência no esporte e também uma área com notícias relacionadas às mulheres presentes no e-sports, chamada PES das Minas. No instagram da equipe tem-se um enfoque total nas atletas com foco nas feições dos rostos, nos movimentos e no trabalho em conjunto que é realizado em campo, o que contribui para a não sexualização da mulher atleta.
Além do site, do Instagram e do Twitter, que funciona como um amplificador dos conteúdos que estão nas outras redes, as Dibradoras produziram também um podcast, que entrevistou mais de 100 mulheres envolvidas com o esporte, a temática envolvia por exemplo, a violência contra a mulher, ou ainda a perspectiva feminina sobre o futebol. O blog segue a mesma tendência de relacionar conteúdos sobre o esporte feminino e também reflexões acerca da invisibilidade de algumas modalidades femininas, ainda que a principal cobertura seja sobre o futebol. Atualmente, uma das jornalistas idealizadoras do Dibradoras é também comentarista do SporTV.

É interessante observar como todas as mídias das Dibradoras possuem reconhecimento entre as torcedoras e o público em geral, tanto é que as redes sociais do veículo são verificadas. Para além das redes sociais, temos também outras ações de comunicação que a equipe participou avidamente, como, por exemplo, podcasts no YouTube e outras participações em eventos. O projeto é muito bem recebido pelo público e um exemplo são os números, principalmente do Instagram, que se mostram, cada vez mais, em crescimento exponencial. Ainda em se tratando do Instagram, os posts começam com uma chamada bem informal e leve e depois há uma cobertura mais técnica sobre os fatos. Acredita-se que muito disso seja em função de tentar passar o máximo de credibilidade e conhecimento técnico sobre os assuntos, cm um material bem informativo e que contenha todas as informações necessárias para a compreensão geral dos fatos. A identidade visual de todas as plataformas da marca é bem sólida e sóbria, sendo composta de tons mais escuros e neutros.
O grupo também promove arrecadamentos online com o objetivo de auxiliar outros atletas. Elas divulgam as ações filantrópicas em suas redes sociais e demonstram muita responsabilidade diante da causa das mulheres no futebol. A marca como um todo constrói muito bem a estratégia transmídia e omnichannel, conectando todos os conteúdos uns com os outros e deixam um storytelling no ar para que as pessoas observem a coesão da equipe. Ao acessar as mídias produzidas pelas Dibradoras fica muito evidente o motivo delas possuírem tanto reconhecimento: porque elas de fato noticiam, debatem e dão visibilidade para as mulheres esportistas.

Referências: VIEIRA, Kauê. Conversamos com as Dibradoras, as minas que deram um bico no machismo pelo amor ao futebol. Hypeness, 21 jun. 2018. Disponível em: https://www.hypeness.com.br/2018/06/conversamos-com-as-dibradoras-as-minas-que-deram-um-bico-no-machismo-pelo-amor-ao-futebol/. Acesso em: 23 set. 2022.
***Esta crítica foi produzida como atividade da disciplina Mídia, Esporte e Gênero ofertada no semestre 1 de 2022 no Departamento de Comunicação Social da UFMG. A disciplina foi ministrada pela Profa Ana Carolina Vimieiro, pela doutoranda Olívia Pilar e pela mestranda Flaviane Eugênio.***