Indicação: NBA das Mina, vozes femininas no esporte

por Ana Flávia de Castro Nogueira, Ana Clara Crepaldi, Rani Costa Fernandes, Sarah Kato Naganuma, Taís Mendes

Ficha técnica

Título: NBA das Mina
Ano de produção: 2017
Direção: Agata Maximo, Carol Naej, Drika Evarini, Paola Ghanem
Duração: 1h por episódio
Classificação: –
Gênero: Podcast
Países de Origem: Brasil

A presença feminina no meio jornalístico teve seu início muito antes das mulheres serem consideradas de fato jornalistas, tendo seu start a partir da escrita de seus manifestos e cartas aos jornais alternativos exigindo por direitos.

A partir dessa frequência, os espaços para outras formas de escrita foram se abrindo, como na literatura, e em colunas vistas como “fúteis” (moda, família e lazer), já que era um espaço dado às mulheres por serem uma mão de obra barata ou simplesmente para escrever aquilo que os homens não gostariam de escrever. Ainda assim, por estarem presentes nas redações, elas foram tomando conhecimento de assuntos mais sérios. 

A quantidade de mulheres nas redações e programas esportivos, em relação aos homens, é historicamente muito pequena. Essa proporção desigual fica ainda mais explícita se estudada as características das funções dos profissionais esportivos dentro dos canais. 

A entrada das mulheres especificamente no campo do jornalismo esportivo se deu por volta da década de 1970, pois foi em conjunto com a aquisição de direitos majoritários e a participação ativa no meio esportivo que elas também conquistaram certa voz ativa a respeito do esporte. Mas ainda sim nunca eram o rosto principal de quem nos contava como tinha sido a rodada do fim de semana. A participação perpassava e perpassa por bastidores e entrelinhas.

Podemos dizer que atualmente a maioria das jornalistas são repórteres, ocupando a frente das câmeras, poucas são comentaristas ou integram as mesas-redondas, sendo que a maioria dos programas analíticos de futebol são compostos por homens. E mais, a maioria dessas mulheres possuem o mesmo padrão estético: normalmente são loiras, brancas e magras. É raro vermos jornalistas esportivas que fogem do padrão estético de beleza.

As empresas jornalísticas eram pensadas e construídas como ambiente de sauna brega: só para homem. Nem havia banheiro feminino. No Estadão, à noite, quando fervia o trabalho jornalístico, as mulheres não eram aceitas nem na mesa telefônica. Havia mulheres como telefonistas, mas só durante o dia.(…) (RIBEIRO, 1998, p.31).

Por esses e outros tantos fatores que circundam a história da mulher na cobertura jornalística do esporte, será então que elas tiveram que migrar e se agarrar ao longo do tempo em mídias alternativas para conseguirem algum tipo de reconhecimento?

Vamos conhecer o caso da iniciativa “NBA das Mina”!

Com a proposta de inovar a cena das mídias esportivas voltadas para o basquete, o “NBA das Mina” é um podcast e um portal de notícias que apresenta os mais diversos formatos, sejam eles lives, posts no Twitter e no Instagram.

O “NBA das Mina” é composto por 4 mulheres – Agata Maximo, Carol Naej, Drika Evarini, Paola Ghanem -, que também escrevem para outros espaços jornalísticos, voltados ou não para a área do esporte.

Falando um pouco de história, “as mina” contam que o podcast “NBA das Mina” nasceu no ano de 2017 com o objetivo de falar do mundo da NBA, WNBA, LBF e NBB de forma apaixonada, comprometida e, ao mesmo tempo, descontraída. Em sua biografia, podemos encontrar a descrição sobre o podcast: O NBA das Mina é um podcast que nasceu em 2017 com o objetivo de falar do mundo do basquete americano de forma apaixonada, comprometida e, ao mesmo tempo, descontraída. Comandado por torcedoras e admiradoras da liga, o programa traz debates sobre jogos, franquias, movimentações no mercado, tendências e muito mais. Tudo isso com a voz delas – e de convidados e convidadas especiais. Novos episódios às segundas e quintas.” Os episódios contam com em média 1 hora de duração. 

O programa é comandado por torcedoras e admiradoras da liga, e traz debates sobre jogos, franquias, movimentações no mercado, tendências do basquete no cenário nacional e internacional e muito mais. Tudo isso com a voz delas e de convidados especiais. O podcast conta com novos episódios às segundas e quintas-feiras.

Em janeiro de 2018, elas se uniram ao time de podcasts da empresa Central3 e afirmam seguir cada vez mais fortes no ideal em comum que é a busca pela democratização do basquete comentado por mulheres, por meio da ampliação dos espaços para debates, conversas, ideias e a difusão do respeito.

O basquete é um esporte muito popular em países como os Estados Unidos e vem ganhando força no Brasil. No entanto, como em outras modalidades, há uma enorme valorização das equipes masculinas em detrimento das femininas. O argumento da masculinização das mulheres que praticam esse esporte foi usado desde o seu surgimento e infelizmente ainda é muito presente. Em 1892, a professora de educação física, Senda Berenson, fez adaptações nas regras para incentivar a participação de suas alunas e escreveu o primeiro guia de basquetebol para mulheres. Dentre as modificações, constava a proibição de tomar a bola da adversária batendo na mão dela e a possibilidade de permanecer com a posse de bola por apenas três segundos. 

Segundo dados da Confederação Brasileira de Basquete, o esporte é praticado por mais de 300 milhões de pessoas no mundo inteiro. No Brasil, o primeiro campeonato interestadual ocorreu em 1940, com a vitória da seleção paulista. “Este foi um passo decisivo para a formação de uma equipe nacional e, em seguida, a formação da primeira seleção brasileira feminina de basquete” (GUEDES, 2009, p.51).

Entre os feitos marcantes do podcast “NBA das Mina”, vale destacar a transmissão do jogo entre Ituano Basquete e AEC/Tietê Agroindustrial/BAX Catanduva, times da Liga de Basquete Feminino Brasileiro, além de fazerem publicações em conjunto com grandes marcas como a Sadia e marcarem presença em eventos renomados da cena atual do basquete, como a NBA House em São Paulo.

Ademais, o podcast é composto por diversos quadros, como o LBF das Mina e o Playoffs das Mina, além de trazer convidados e entrevistas para os episódios. Por ter essa riqueza de conteúdos, ele inova em comparação a formatos mais fechados do formato. O fato de ser comandado por mulheres também é um destaque, já que outros podcasts de referência nesse tema no Brasil são apresentados por homens (como o Café Belgrado e o Triplo Duplo). 

Quanto aos conteúdos veiculados no Instagram, as minas trazem diversas editorias, como por exemplo a que fala sobre momentos marcantes do basquete na história, a editoria “notícias de bandeja” que traz um resumo de notícias e também a editoria “sneaker da semana”. Isso é um diferencial em relação a outros perfis, que de forma geral se resumem a postagem de momentos dos jogos e comentários.

Print do perfil do podcast no Instagram

Fonte: reprodução do Instagram. Disponível em: https://bit.ly/3PtYLXu

O NBA das Mina, além de produzirem o podcast e mais conteúdos em plataformas tradicionais como Twitter e Instagram, também possuem Discord e Twitch, onde disponibilizam canais de apoio e ferramentas de doações, utilizando-se do Picpay, do Pix e poutros recursos. 

Podemos notar que apesar da publicidade que o NBA das Minas realiza para marcas e dos grandes convites que recebe, como para a NBA House, ainda necessitam buscar formas de se sustentarem, evidenciando sua fragilidade e a baixa visibilidade causada pelas barreiras de gênero.

Em números comparativos, Café Belgrado, um outro canal de Podcast com fundadores homens, possui 9,8 mil seguidores na Twitch e nenhuma forma de pedido de apoio, contra 2,4 mil seguidores na Twitch do NBA das Minas, onde esse pedido de suporte é bem evidente.

Print do perfil do podcast na Twitch

Fonte: reprodução Twitch. Disponível em: https://www.twitch.tv/nbadasmina?lang=pt-br

Esses fatores analisados justificam, em partes, a falta de credibilidade que as pessoas depositam até hoje em mulheres que falam sobre esportes, uma posição e um espaço majoritariamente ocupado e monopolizado por homens. 

Acreditamos que é válido fazer uma breve comparação sobre o papel jornalístico esportivo da mulher na televisão e no podcast, evidenciando a diferença sobre o uso da imagem.  

Na televisão, pode-se perceber essa tentativa de colocar a mulher jornalista dentro do padrão de beleza televisivo, onde há essa “feminilização” para que seu corpo consiga conquistar um espaço interessante sob os holofotes, objetificando-a. No entanto, a produção de Podcast não utiliza-se da imagem, sendo uma mídia auditiva. O que, em nossa visão, pode acabar por marginalizar ainda mais o canal NBA das Minas e sua iniciativa de um olhar de torcedoras sobre o basquete, onde a estética, o padrão normativo e o assédio são mascarados/dificultados pela ferramenta midiática. Ou seja, não se torna um meio que apetece ou que ganha notoriedade. 

Reafirmamos, então, a necessidade do jornalismo esportivo expandir suas fronteiras. Principalmente para as jornalistas esportivas, saindo do padrão estético que serve para “embelezar” as câmeras. Incentivamos a prática e a divulgação de programas como o NBA das Minas. Que eles sejam ainda mais valorizados e que tenham os créditos que merecem, principalmente pela qualidade dos conteúdos e a seriedade do trabalho. 

Referências

ABREU, Alzira Alves de; ROCHA, Dora. Elas ocuparam as redações : depoimentos ao CPDOC. Janeiro: FGV, 2006.

CASADEI, Eliza Bachega. A Inserção das Mulheres no Jornalismo e a Imprensa Alternativa: primeiras experiências do final do século XIX. Revista Alterjor, v. 1, n. 3, 2012. 

BAGGIO, Luana Maia. Representação da mulher no a atuação da jornalista Renata Fan no programa Jogo Aberto da TV Bandeirantes. Santa Maria: s.n., 2012. 

FEITOSA, Kenia Lima; ALMEIDA, Marcos Bezerra. Basquetebol feminino: breve histórico e tendências atuais. Disponível em: https://bit.ly/3BayRDV. Acesso em: 19 jul.2022.

GUEDES, C.M. Mulheres à cesta: o basquetebol feminino no brasil (1892-1971). São Paulo: Miss Lily, 2009.

OLIVEIRA, Ana Paula; DE OLIVEIRA, Nathalia Lainetti d. A MULHER NO JORNALISMO ESPORTIVO. Revista observatório, [s. l.], v. 3, ed. 5, p. 1-23, 2017. Disponível em: https://bit.ly/3PrsXmb. Acesso em: 18 jul. 2022.

RIBEIRO, José Hamilton. Jornalistas: 1937 a 1997: história da imprensa de São
Paulo vista pelos que batalham laudas (terminais), câmeras e microfones. São Paulo:
Imprensa Oficial do Estado, 1998.

***Esta análise foi produzida como atividade da disciplina Mídia, Esporte e Gênero ofertada no semestre 1 de 2022 no Departamento de Comunicação Social da UFMG. A disciplina foi ministrada pela Profa Ana Carolina Vimieiro, pela doutoranda Olívia Pilar e pela mestranda Flaviane Eugênio.***

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