Entrevista: Sálua Zorkot Silva

por Felipe Silva Alvares, Gabriela Ribeiro de Almeida, Gustavo Bonfim,Izabella Figueiredo Malard Marchese e Valter Saldanha de Souza

Perfil da entrevistada:

Nome: Sálua Zorkot Silva
Idade: 36 anos
Trajetória Acadêmica: Graduação em Jornalismo (PUC Minas), MBA em Comunicação Digital e Gestão de redes sociais (UNA), Mestrado em Comunicação Social (PUC Minas) Trajetória Profissional: TV e Rádio Band Minas, PUC TV, TV Alterosa, Record Minas, Globo Minas, TV Galo.

Imagem da repórter Sálua Zorkot Silva

Fonte: reprodução Youtube. Disponível em: https://youtu.be/Wt3MBHX61SU

Entrevista:

  1. Quando você decidiu trabalhar com mídia esportiva e como foi para entrar nesse mercado no início da sua carreira?

Engraçado que eu nunca pensei em trabalhar com jornalismo esportivo, na faculdade também nunca tinha pensado em trabalhar com TV, mas aí as coisas foram acontecendo. Meu último estágio foi em uma TV universitária, acabei ficando lá e me apaixonei. Em 2009 fui trabalhar na Record, em Varginha, mas era como repórter para fazer uma cobertura geral do Sul de Minas, nada relacionado com esporte. Acabou surgindo uma vaga aqui em Belo Horizonte, me chamaram, seis meses depois eu já estava aqui, isso em 2010, e eu trabalhando na editoria fazendo cidade, o que todo repórter faz na Record. Não tinha um programa esportivo na época, e eles estavam com um plano de começar a ter um programa diário que seria apresentado pelo Dudu Graffite e a Maíra Lemos.  E a Record não tinha predição desse jornalismo diário, ainda mais aqui, regionalmente falando. Na época, o editor chefe desse programa me pediu indicação de uma repórter mulher, pois eles queriam um casal para fazerem as reportagens esportivas diariamente. Eu disse que não sabia, mas que iria pensar para indicar. Nisso papo vai papo vem, já estava em cima da hora do programa, que estreava segunda feira, e eles me ligam, na sexta-feira a tarde, dizendo que estava achando melhor, ao invés de trazer alguém de fora para entender todo o mecanismo da casa, pegar alguém que já era da casa para trabalhar com esporte, e que tinham pensado em mim, que eu encaixava no perfil. Eu virei para ele falando que não sabia nada de esporte, nada de futebol, mas que poderia me colocar que eu iria aprender. Foi assim que eu caí no esporte. Domingo eu já fui fazer uma matéria de comportamento, era um jogo do galo [Clube Atlético Mineiro], tive que ir lá para fazer cobertura , e já comecei no final de semana mesmo a ler sobre esporte, sobre futebol, sobre os campeonatos, assinei canais voltados a esporte e fui, tive que aprender.

Era uma baita oportunidade para mim, para tentar algo diferente na minha carreira. Na segunda-feira, me mandaram para o CT do galo, acompanhei o treino e a coletiva. Quando acabou tudo, eu me senti perdida, não fazia ideia de por onde começar o texto, foi um momento meio desesperador. Voltei para a redação, sentei com meu editor e ele me deu suporte, junto com outras pessoas. Dei sorte de ter pegado uma equipe maravilhosa. Dia após o outro fui estudando e consumindo materiais esportivos. Chegou uma época em que estava tão imersa naquilo que as vezes eu saia com duas pautas e acabava pensando em outras possibilidades para mais matérias. Fiquei imersa, fiquei apaixonada, foi uma fase muito boa, mas infelizmente muito curta, o programa durou apenas 5 meses. Em 2016, a Band me ligou pedindo que eu fizesse algumas coberturas durante 3 meses, sobre pautas esportivas. E essa foi minha trajetória nesse ramo.

  1. Quais foram os ganhos e as dificuldades encontradas?

O ganho sem dúvida foi a versatilidade. Depois que eu comecei a trabalhar com o esporte eu ia todo dia para CT, e lá você não tem nada. É o cara treinando, depois as entrevistas e daquilo você tem que contar histórias diferentes. Então com o jornalismo esportivo, aprendi que eu consigo escrever qualquer história e às vezes usando a mesma imagem, ou falas muito parecidas. Essa criatividade, versatilidade o esporte me proporcionou e me ajudou demais na minha carreira como jornalista. Já em relação à dificuldade, a impressão que eu tenho é que enquanto mulher, você tem que se provar muito mais no esporte, em cobertura esportiva. O tanto que eu tive que estudar, entender desse universo, eu fiz isso tudo por que eu me cobro muito, então eu queria chegar em um ponto de conseguir falar de igual para igual com qualquer um, mas muitas vezes os outros jornalistas que já estão ali há mais tempo, principalmente os homens, não te dão muito crédito, por estar começando na área ou por ser mulher. Senti que tinha que saber muito para ser respeitada, e às vezes tinham homens lá que também não saberiam tanto e seriam respeitados.

Agora um outro caso, em 2013, no julgamento do goleiro Bruno, eu estava ao vivo entrevistando um dos advogados dele, ele virou falando que na época o goleiro Bruno fazia exame antidoping semanalmente no Flamengo, porque tinham surgido falas de que o goleiro utilizava drogas, eu questionei ele sobre a frequência, por que eu tinha conhecimento sobre o assunto. Ele virou para mim e disse ‘’Ah é porque você é mulher, você não entende” ao vivo. Eu falei que ele estava enganado, que eu já havia feito coberturas esportivas e expliquei a ele como funcionava o processo, que na verdade alguns jogadores eram sorteados. No ponto o editor chefe me deu todo o respaldo, dizendo que eu estava certa e que poderia continuar. Ele foi muito deselegante, mas essa fala dele, diz muito.

Imagem da repórter Sálua Zorkot Silva entrevistando uma jogadora

Fonte: reprodução Youtube. Disponível em: https://youtu.be/Wt3MBHX61SU
  1. Como foi sua trajetória na TV Galo? 

Por causa da época em que fiz cobertura esportiva na Record, acabei mantendo amizade com algumas pessoas desse universo, inclusive o Domenico [Bhering]. O Domênico e o Cássio eram pessoas que eu tinha contato. Eu lembro que já nem mexia mais com cobertura esportiva e eles me chamavam para as confraternizações do Atlético de final de ano. Em 2019, estava terminando meu mestrado, e acompanhando as redes sociais do Domênico e vi que ele postou sobre o Eco Galo: uma iniciativa de reutilizar todo o material orgânico que sobra dentro do CT e reciclar todo o lixo da instituição. Quando vi aquilo, surgiu a minha vontade de trabalhar na empresa. Entrei em contato com o Domenico e ele me disse que também gostaria que eu entrasse para a empresa. O Domenico me ligou e e disse que tinha uma vaga em aberto, então ele me perguntou se eu tinha interesse e eu confirmei a minha vontade de trabalhar com ele. Nesse momento eu fui estudar sobre o que o Galo estava fazendo em termos de comunicação, com foco na TV Galo (e eu gostei demais!). Marcamos uma entrevista e lembro de ter falado da congruência da vaga com meu mestrado, em que eu falava sobre o impacto das redes sociais digitais na produção telejornalística. Por isso, de certa maneira eu já estava estudando sobre a área que diz respeito à vaga que tinha surgido na empresa. Uma semana depois que eu apresentei minha dissertação do mestrado eu fui chamada e contratada pela TV Galo.

Para trabalhar lá, e vejo isso na profissão de jornalista, você precisa ser multimidiático, “multitudo”. Eu era produtora, mesmo tendo entrado na profissão de repórter, mas eu já sabia que o escopo de trabalho não seria como o de uma redação tradicional. O trabalho era uma construção conjunta, em que eu tinha que buscar as matérias, fazer as coberturas e tal. Minha primeira matéria foi muito divertida e eu amei fazer. Eu estava com o Pedro, mas ele também tinha que fotografar, então eu tive que me virar sozinha. A cobertura foi na estreia do time feminino em um campeonato, e elas ganharam de goleada. Eu fui para a arquibancada mesmo, e de lá eu tive a visão de torcedor. Peguei meu celular e por lá mesmo eu gravei. Peguei depoimentos de torcedores, histórias super legais, até de familiares dos jogadores. E o resultado foi bem legal, teve bastante visualizações. Nesse dia eu trabalhei muito, o dobro de horas praticamente, e eu amei fazer. Foi assim que eu comecei a trabalhar lá. Com o passar do tempo, de acordo com as necessidades do setor, eu fui assumindo outras responsabilidades. Por mais que o Pinel fosse coordenador, eu tinha que pegar algumas funções da coordenação. Além disso, tive que pensar em outras questões na comunicação, como o marketing.

Fiz de tudo, desde a conferência de equipamentos, até mesmo campanhas de prevenção de suicídio. Chegou em um momento que eu comecei a repensar a minha carreira, pensar em outras oportunidades profissionais. Por isso, no fim de agosto eu pedi o desligamento. Mas a paixão continua, a cobertura jornalística é uma delícia. Eu digo que o Galo foi uma das melhores empresas que eu trabalhei. Lá eu pude me reinventar, pude me descobrir enquanto profissional, novas paixões. Entrei como profissional e saí como torcedora!

  1. Um trabalho ou matéria que você mais se orgulha?

Nossa, no Galo teve tanta coisa legal que eu fiz. Essa primeira matéria que eu contei me marcou muito e eu gostei muito de fazer. Todas as viagens que eu fiz com o time foi uma experiência maravilhosa, as matérias que eu pude fazer… Inclusive, em Patos de Minas, porque meus pais moravam lá então foi muito bacana, uma experiência muito interessante. Todas as vezes que eu viajei com o time eu era a única mulher da delegação. Sempre teve muito respeito por mim enquanto profissional, isso é muito bacana, sabe? Por parte de todos da delegação. Eu me sentia muito à vontade, muito respeitada. As lives que a gente começou a fazer por causa da pandemia, como a gente teve que se reinventar,  aquilo ali foi fantástico pra gente. A gente fazendo aquelas lives em casa e depois fomos pro CT pra fazer 1h30 de programa com roteiro básico e a gente lá durante o treino improvisando, então isso foi maravilhoso pra mim enquanto profissional, adorava fazer aquilo e ter a interação ao vivo com as pessoas. O trabalho do Galo é Vida eu adorei fazer também, ainda mais com uma causa tão importante. Trabalhar com isso pra mim foi muito marcante. A gente tinha trabalhado pra um projeto lindo pro carnaval de 2020, lindo. Era uma marchinha que a gente planejou pra ter materiais super bacanas durante o carnaval, foi criada uma marchinha falando do Galo, a gente gravou um clipe, eu fui pra estúdio gravar, você não faz ideia do tanto que a gente correu atrás, o tanto de coisa. Eu lembro que fiquei até tarde pra acertar o tempo que o pessoal gravou e tava fora do compasso. A gente teve um “puta” trabalho, tava muito bacana.

E aí teve uma situação chata com o Galo Doido, aquela situação foi bem chata, mas pensando na comunicação corporativa foi um momento interessante profissionalmente, como jornalista, trabalhar no gerenciamento de crise. Não cabe mais esse tipo de “brincadeira”, o perfil do Galo Doido era sempre o galanteador, o que zoava, mas esse tipo de brincadeira hoje já não cabe mais. Até porque o profissional que fazia o Galo Doido era exemplar, não tinha o que questionar, era do personagem mesmo que não cabe mais hoje em dia e foi legal o Atlético ver isso. Na marchinha a gente falava do respeito, dessa questão do não é não, mas não dava mais pra usar naquele contexto.

  1. Você tem uma inspiração ou referência no universo esportivo?

Sabe que eu nunca tive um jornalista esportivo, homem ou mulher, que eu olhasse e falasse “nossa é minha inspiração”. Eu sempre gostei muito dos jornalistas que faziam matéria sobre comportamento. Uma grande referência, saiu há muito tempo do jornalismo e pra mim foi uma das melhores e trabalhava aqui na Globo Minas, é Narriman Sible. Fantástica, mas ela tá fora há uns 15 anos. Ela sempre teve uma pegada do jornalismo que eu gostava. Não tinha especificamente alguém do esporte, Luis Gustavo Bilocchi, da Record, sempre gostei das matérias dele de comportamento. O jeito de contar dos dois era muito leve. Tadeu Schimit também sempre gostei muito do jeito de narrar, as palavras que ele usa, procurar uma narração mais próxima do bate-papo até porque o esporte pede isso. Mas nas matérias mais pesadas tinha que ter uma entonação diferente.

*O texto foi adaptado para uma melhor leitura*

***Esta análise foi produzida como atividade da disciplina Mídia, Esporte e Gênero ofertada no semestre 1 de 2022 no Departamento de Comunicação Social da UFMG. A disciplina foi ministrada pela Profa Ana Carolina Vimieiro, pela doutoranda Olívia Pilar e pela mestranda Flaviane Eugênio.***

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