por Beatriz Ribeiro Costa (@biarcosstaa)

“Eu não sou boa em nenhum esporte”, “Eu faço academia por obrigação”, “Não sou fã de atividades físicas”. Com certeza você já ouviu ou até disse alguma dessas frases. O exercício físico para muitas pessoas está associado a processos dolorosos. Quem não tem um trauma relacionado à aula de educação física no colégio que atire a primeira pedra! Normalmente, quando crianças, somos incentivados pela família a praticar exercícios, somos matriculados em aulas de natação, ballet, futebol . . . Porém, à medida que vamos crescendo, os exercícios físicos deixam de ser prazerosos, seja pela falta de tempo, com o aumento das tarefas escolares, seja pela pressão estética do corpo perfeito ou ainda pelas várias mudanças estéticas e psicológicas que passamos durante a adolescência.

Na juventude, a sobrecarga de obrigações pesa ainda mais, ficando ainda mais fácil dar uma desculpa e deixar o esporte de lado. Na vida adulta também passamos a ser menos corajosos, não fazemos muitas atividades novas, morremos de medo do fracasso. Para as mulheres, esse distanciamento das práticas esportivas é ainda mais intenso. Segundo dados do IBGE, apenas 33,4% das mulheres responderam que haviam praticado esportes ou atividades físicas. Já entre os homens, esse total foi de 42,7%. Desde criança, não é ensinado para as meninas o prazer no esporte. Na adolescência os exercícios físicos chegam como uma obrigação para manter o corpo belo e magro. São tantas as mudanças corporais, tantas as cobranças, que muitas mulheres deixam de lado o esporte e passam a vê-lo com olhares negativos. Ao contrário dos homens, que são incentivados e enxergam o esporte como uma atividade de lazer e de socialização.

Pensando nisso, Marcela Ceribelli, CEO e diretora executiva da agência Obvious (@obvious.cc), fez um episódio no podcast  da agência, o Bom dia, Obvious, em setembro de 2019, em que discute o tema da atividade física com duas colegas Natália Leão, jornalista, e Isabela Serafim, editora de conteúdo da Obvious. Esse episódio foi intitulado “chapadinhas de endorfina”. Dali a poucos meses, a pandemia começava e engatilhada pela discussão do podcast e pelo retorno do público, Marcela decide criar a página no Instagram @chapadinhasdeendorfina. O objetivo da criadora era de incentivar mulheres a se exercitarem pelo prazer, cuidado com o corpo, para um bom envelhecimento, longe das academias e das comparações de corpos potencialmente tóxicas. Ceribelli (sim, ela é filha da jornalista Renata Ceribelli) contou em entrevista para o UOL que o projeto nasceu ao observar os sentimentos e necessidades das pessoas no período pandêmico. Ela sentiu que deveria produzir um conteúdo que gerasse acolhimento e identificação.

Conteúdo do Chapadinhas

Fonte: https://paulacruz.com.br/chapadinhas-de-endorfina
Acesso em: 19 de junho de 2023.

Hoje, a página do Instagram conta com mais de 400 mil seguidores e chama atenção por sua identidade visual marcante. Desenvolvida pela designer Paula Cruz e recheada de sorrisos, ela é leve, fresca e divertida. As ilustrações são alegres, com cores que trazem feminilidade, mas ao mesmo tempo, a fonte grande e em caixa alta trazem um ar de imperatividade. Os posts são sempre facilmente reconhecidos devido a essa forte preocupação estética do perfil, que tem em sua bio a frase: “se apaixone pelas coisas incríveis que seu corpo é capaz de fazer”, e ela resume bem a missão do @chapadinhasdeendorfina. 

O conteúdo do Instagram, além de facilmente identificável, é também diversificado. Ele conta com vídeos curtos que viralizaram em outras redes sociais que se relacionam à prática esportiva feminina, sejam eles inspiradores, engraçados ou educativos. Além disso, a página também produz o próprio conteúdo, criam memes relacionados a signos ou a situações identificáveis, fazem posts com frases motivacionais e de ajuda, também produzem posts colaborativos com nutricionistas, marcas de vestimentas esportivas, influenciadoras ligadas ao mundo esportivo e até com a agência Obvious. Nos stories, o @chapadinhasdeendorfina costuma repostar as seguidoras praticando esportes, reforçando os ideais que guiam o projeto, é muito mais sobre wellness do que sobre ser fitness.

Ao longo de dois anos, o Chapadinhas de Endorfina se expandiu. Hoje ele possui o próprio podcast, a Rádio Endorfina, que conta com 50 episódios, cada um com uma convidada diferente e com temas relacionados aos mais diferentes aspectos das práticas esportivas e da vida saudável. Importante destacar a ideia abrangente e interseccional que o projeto possui, questões como gordofobia, distúrbios alimentares, doenças psíquicas, racismo, etarismo e capacitismo são sempre considerados e colocados em debate, nos posts do Instagram e também nos episódios da Rádio Endorfina. 

Outra ferramenta muito interessante é o fórum no Telegram. Com quase 3 mil inscritos, é um lugar de interação entre as mulheres que acompanham o projeto. As administradoras pautam o grupo com posts do Instagram e também com mensagens que incentivam a troca de profissionais da área da saúde, de receitas, de selfies pós-treino, de metas possíveis para a semana, de incentivo, de auto estima, de músicas e playlists. Ou seja, o céu é o limite! O fórum constitui um espaço acolhedor, de troca entre o público feminino e que propaga ainda mais o incentivo à diversão e ao bem-estar.

Uma das imagens de conteúdo da página

Fonte: https://www.instagram.com/p/CsyTe7XBat4/?igshid=MzRlODBiNWFlZA==
Acesso em: 19 de junho de 2023.

Outra forma que o @chapadasdeendorfina encontrou para se aproximar e engajar o público foram os eventos chamados de “Treinão”. Organizados, normalmente, na cidade de São Paulo, eles contam com aulas de diversas modalidades, como yoga, funcional e dança. Os eventos possuem dinâmicas, premiações, palestras e estandes das marcas patrocinadoras. É de suma importância relacionar as atividades físicas com o prazer para as mulheres, assim como desenvolver a característica social delas. Segundo dados do Diagnóstico Nacional do Esporte, as mulheres estão mais envolvidas nas atividades individuais. Isso é um dos motivos da dificuldade de encontrar prazer nas atividades físicas, dessa forma, esses eventos são incríveis para conectar mulheres com interesses e objetivos parecidos, além de incentivar a experimentar novas modalidades.

O perfil trabalha com marcas grandes como a Bold Snacks, de barras de proteína, a Granado Pharmácias e a Baer-Mate, por exemplo. É interessante destacar a parceria que a página possui com a cerveja Michelob Ultra, uma cerveja que se caracteriza por ter baixos valores de carboidratos e calorias, mais especificamente, apenas 74 calorias por long-neck. Ser patrocinada por uma marca de cerveja demonstra a política da marca de não apoiar dietas restritivas e que uma rotina saudável inclui também uma cervejinha de vez em quando!

O perfil @chapadinhasdeendorfina possui um papel de extrema importância nas redes sociais on-line que é tornar o ambiente fitness da internet menos tóxico, mais convidativo e amigável. Tá tudo bem não ter ido na academia, não existe furar dieta e o exercício físico não é uma ferramenta apenas de emagrecimento! O Instagram muitas vezes potencializa a pressão estética, a competitividade e a comparação. Assim, perfis como o @chapadinhasdeendorfina que produzem um conteúdo responsável, interessante, bonito e divertido, são, com seus limites, revolucionários.