Resenha: O filme “Menina de Ouro” e as pedagogias de gênero

Por Davi Augusto (@davi.m13) e Ronnald Campos (@ronnald_campos)

Ficha Técnica

Título: Million Dollar Baby (Original)
Ano de produção: 2004
Direção: Clint Eastwood
Duração: 132 minutos
Classificação: 12 anos
Gênero: Drama, Esporte
Onde assistir: YouTube
Países de Origem: EUA

A obra de 2004, “Menina de Ouro”, dirigida por Clint Eastwood, é focada na personagem Maggie Fitzgerald (Hilary Swank), uma garçonete que sonha em se tornar uma boxeadora de destaque no esporte, desafiando os contextos econômicos impostos pela sua condição, mas, principalmente, o cenário de dominação masculina no boxe. Nessa perspectiva, ela convence o técnico amargurado e experiente Frankie Dunn (Clint Eastwood) para prepará-la, desenvolvendo uma relação paternal com ele.

Foto:  Divulgação

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Os sentidos de “Menina de Ouro” em um contexto de violência de gênero

Os esportes de combate, historicamente ligados aos homens, por uma visão deteriorada de que a força é algo particular masculino, formam, portanto, um ambiente de exclusão para as mulheres, que tinham a delicadeza como visão de destaque, também em uma ideia deteriorada.

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Mas, no filme “Menina de Ouro”, ao lutar, mesmo antes de entrar em um ringue, Maggie Fitzgerald tenta quebrar a narrativa cultural de dominância masculina no boxe, ampliando as noções do que é ser mulher dentro dos esportes de combate. Ao reivindicar um espaço como lutadora, ela rompe com as imposições de gênero, mostrando que as mulheres não podem ser ligadas apenas aos ideais de delicadeza, mas devem, também, estar inseridas em um esporte que exige a força física. Tal luta é representada como um desafio aos papéis tradicionais socialmente impostos às mulheres, em que a busca por autonomia sobre o corpo feminino é destacada.

Vídeo: Divulgação

Na trama do filme, a determinação de Maggie em ser uma lutadora reflete as tensões envolvidas em buscar espaço em um contexto dominado por homens. Ao escolher competir no boxe, ela luta contra os estigmas sociais de que esse não é um esporte para mulheres, enfrentando preconceitos diários de homens que dizem que ela não pode ser lutadora ou que se recusam a treiná-la por ela ser uma mulher. Mas, para além dessa luta, Maggie também busca ressignificar sua identidade feminina, não limitando-a à fragilidade e à delicadeza que a sociedade impunha.

Dessa forma, ao tratar questões em que as mulheres devem ocupar espaços majoritariamente ligados aos homens, por uma questão de estigma social, a obra mostra que Maggie pode moldar sua própria história, enfrentando um sistema de opressão, que pratica ações de violência para barrar as vontades dela, e não limitando seus espaços à delicadeza socialmente imposta.

Masculinidades em mudança

Durante a trama, acompanhamos também o treinador de Maggie, Frankie Dunn. O treinador representa um estereótipo comum de um homem rígido, protetor, reservado emocionalmente e que enxerga as emoções e vulnerabilidades como uma fraqueza.

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No decorrer do filme, percebemos uma transformação em Frankie, em que ele passa a ocupar um lugar simbólico na vida de Maggie, semelhante a um pai para a garota, protegendo-a e aconselhando-a e da mesma forma, aprendendo com ela a ser um ser humano mais forte e determinado.

Essa transformação do personagem com a influência de Maggie contrariam os estereótipos de um homem “comum” presentes na sociedade.

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Boxe, identidade e autonomia

Ao condicionar-se para a luta nos ringues de boxe, Maggie faz uso de seu corpo para expressar sua identidade, desafiando as noções normativas de feminilidade. Portanto, a preparação realizada por Maggie e Frankie Dunn reforça um contexto de força, revelando a autonomia na decisão de lutar em um contexto dominado por uma influência masculina.

O filme, que transcende a realidade esportiva por abordar temas como identidade e gênero, oferece ao público uma reflexão sobre as condições oferecidas às mulheres no esporte, e não somente no boxe, e como esses conflitos estão presentes em nossa sociedade.

É importante ressaltar que, por mais que exista uma grande história em volta da personagem, fica claro que o filme aborda muito mais o fato de Maggie ser uma mulher batalhadora e guerreira ao invés de também expor as falhas presentes no sistema e na sociedade, e vê a personagem como uma exceção.

Reverberações

“Menina de Ouro” fica além de ser apenas um filme esportivo e se conecta com a luta sobre o papel feminino na sociedade, explorando o empoderamento das escolhas, como as de Maggie, superando as limitações impostas socialmente. Ao lutar contra as adversidades de um ambiente de domínio masculino, a protagonista do filme inspira a necessidade de desconstrução de estereótipos, revelando que uma mulher pode ter reconhecimento mesmo em esportes historicamente ligados aos homens, como o boxe.

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Portanto, a obra atua como uma exemplificação da luta das mulheres nos contextos esportivos, ajudando a refletir sobre como normalmente aspectos culturais afetam as percepções sobre os papéis de gênero dentro da sociedade.

Contudo, é importante ressaltar que, por mais que exista uma grande história em volta da batalha da personagem em se tornar uma pugilista, fica claro que o filme aborda muito mais o fato de Maggie ser uma mulher batalhadora e guerreira ao invés de também expor as falhas presentes no sistema e na sociedade, e vê a personagem como uma exceção.